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Sexta-Feira Santa: Celebração do Amor Crucificado

Sexta-Feira Santa: Celebração do Amor Crucificado

Caros irmãos e irmãs,  chegamos na Sexta-Feira Santa, o dia em que a Igreja se detém em silêncio diante do mistério da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não se celebra a Eucaristia neste dia, pois a própria liturgia é um grande ato de memória e adoração ao sacrifício redentor de Cristo na cruz. É o único dia do ano em que não há missa, mas sim uma celebração solene da Palavra e da Adoração da Cruz, que nos convida a contemplar o amor extremo de Deus pela humanidade. A entrega de Jesus, nos insere em sua entrega aos irmãos e irmãs de modo pleno e profundo, como apresenta autores como Karl Rahner e Hans Urs von Balthasar em seus escritos teológicos.

A Paixão de Jesus revela que toda sua vida foi um dom para os outros – um amor tão radical que O levou a se entregar livremente por nossa salvação. Ele assumiu nossas dores (cf. Is 53,3) porque compreendia profundamente nossas fraquezas (cf. Hb 4,15).

A celebração começa com uma atitude de recolhimento: o sacerdote e os ministros entram em silêncio, prostram-se diante do altar (sinal de humildade e reverência) e a assembleia é convidada a ouvir a narrativa da Paixão segundo o Evangelho de João (Jo 18,1–19,42).  Em seguida há a proclamação da Paixão que é feita sem velas, sem incenso e sem o habitual “O Senhor esteja convosco”, apresentando um clima de sobriedade que nos coloca diante da seriedade do mistério celebrado.

Nossa Igreja reza solenemente por todas as necessidades do mundo, incluindo os que não creem, os governantes, os sofredores e a unidade dos cristãos. Esta oração manifesta que a redenção de Cristo, vivida em sua entrega na Cruz, alcança toda a humanidade.

O momento mais comovente da celebração é quando a cruz é desvelada e apresentada aos fiéis com o canto “Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo”.  A assembleia é convidada a prestar veneração à cruz, seja com um beijo, um toque reverente ou uma genuflexão. Este gesto não é um culto ao sofrimento em si, mas reconhecimento de que a cruz é o sinal do amor que vence o pecado e a morte. O sinal que antes representava o total aniquilamento da vida, se torna lenho fértil da Salvação, pois a morte dura da condenação de Jesus terá a vitória da Vida na Ressurreição.

Como não há consagração neste dia, recebemos a Eucaristia consagrada na Quinta-Feira Santa, reforçando a unidade do Tríduo Pascal. A comunhão nos une ao sacrifício de Cristo e nos alimenta para viver a mesma entrega no amor.

A Sexta-Feira Santa não é apenas uma recordação triste, mas uma celebração do amor que salva. A cruz, instrumento de tortura, torna-se o trono de Cristo Rei, onde Ele atrai todos a Si (Jo 12,32).

A liturgia desse dia nos lembra que:

– O sofrimento de Jesus não foi um acidente, mas um ato livre de amor obediente ao Pai (Fl 2,8).

– A cruz revela o rosto misericordioso de Deus, que assume a dor humana para transformá-la em caminho de ressurreição.

– O silêncio da Sexta-Feira Santa prepara o grito da Páscoa: a morte não tem a última palavra!

Como momento de aprofundamento somos convidados a jejuar e abster-se de carne como sinal de penitência e solidariedade com Cristo, mas não somente desse alimento muito comum na vida cotidiana do Brasil, mas podemos buscar outros gestos de jejum como escolhendo outros alimentos que nos ajudem a meditar sobre a importância da entrega de Jesus.

Somos convidados a fazer algum gesto de caridade, lembrando que o amor concreto é a melhor resposta ao amor da cruz, que pode ser como processo de continuidade durante a quaresma, pois há que fez alguma economia durante o período quaresmal e que pode ser revertido com uma oferta ou entrega de alimento para quem necessita.

Na celebração também se realiza uma coleta em vista da manutenção dos lugares na Terra Santa, uma prática instituída por São Paulo VI, em 25 de março de 1974, por meio da Exortação Apostólica Nobis in animo. 

É muito comum as comunidades também realizar nesse dia representações da Paixão de Jesus, onde se pode refletir sobre os últimos passos de Jesus com a cruz. Esse momento pode nos ajudar a viver o mistério de maneira plena e animadora para que nossa fé amadureça diante da também da dor, mas antes de tudo para que rezemos com o compromisso de Jesus diante dos planos do Pai.

Que esta Sexta-Feira Santa nos encontre de pé junto à cruz (Jo 19,25), como Maria e João, para acolhermos no coração a graça da redenção.

“Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa santa cruz remistes o mundo!”

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