Não é novidade que nossa Diocese esteja mergulhada num dos principais biomas existente no nosso Planeta: o Pantanal. Também não é novidade que esse mesmo lugar está sendo ameaçado pela humanidade, por meio da falta de cuidado, das queimadas criminosas e do projeto de ampliação do agronegócio não sustentável!
O Pantanal tem enfrentado graves problemas de degradação ambiental, especialmente relacionados à perda de capacidade hídrica. Em 2023, a superfície de água no bioma foi 61% menor que a média histórica, com apenas 2,6% de sua área coberta por água. Isso representa uma das maiores quedas em toda a série histórica de monitoramento. Entre as causas estão o desmatamento nas nascentes dos rios que alimentam o Pantanal, o avanço da agricultura e a diminuição dos “rios voadores” que vêm da Amazônia, agravados pelas mudanças climáticas e incêndios florestais intensos.
A cidade de Corumbá, localizada no coração do Pantanal, perdeu 53% de sua superfície de água em relação à média histórica, evidenciando o impacto local severo. Essa situação coloca em risco a biodiversidade única da região e também afeta comunidades que dependem dos recursos hídricos para subsistência. Esses dados reforçam a necessidade de ações urgentes, como a proteção das áreas de nascentes, a restauração de vegetação nativa e a gestão sustentável da água.
O Papa Francisco utiliza a expressão “Casa Comum” principalmente em sua encíclica Laudato Si‘ (2015), que aborda questões ambientais, sociais e espirituais relacionadas ao cuidado com o planeta. Ele destaca que a Terra, nossa Casa Comum, está sofrendo devido à exploração irresponsável dos recursos naturais, mudanças climáticas e desigualdades sociais.
No documento, o Papa chama todas e todos, sem distinção de crença, a uma conversão ecológica, promovendo a solidariedade e o respeito pela criação. Ele insiste na necessidade de ações conjuntas para proteger o meio ambiente e construir uma economia mais sustentável e inclusiva. A mensagem central é a de cuidar da Casa Comum com gratidão, responsabilidade e compromisso com as futuras gerações.
O Papa relaciona a crise ecológica à crise ética e espiritual, enfatizando que a destruição ambiental reflete uma cultura do descarte. Este chamado interpela os fiéis a repensar seu estilo de vida e cultivar uma relação de gratidão e cuidado com a criação, valorizando pequenos gestos que reduzem o impacto ambiental.
Há dois trechos que se pode destacar na Laudato Si’ que refletem aspectos centrais da mensagem pastoral do Papa Francisco sobre o cuidado com a criação e a responsabilidade coletiva: “A terra, nossa casa comum, parece transformar-se sempre mais num imenso depósito de lixo.” (LS, 21)
Este trecho reflete a crise ecológica como consequência da indiferença humana. Pastoralmente, é um apelo à conscientização de que o planeta é um dom divino e sua degradação afeta especialmente os mais pobres. Essa realidade está em nossa Diocese, em nosso Pantanal. A Igreja, como mãe e guia, é chamada a formar comunidades que respeitem a criação e denunciem práticas exploratórias. Isso pode ser trabalhado na catequeses, nas campanhas de sustentabilidade nas paróquias e projetos comunitários de reciclagem e reflorestamento, além de nossa liturgia que pode nos levar a rezar e celebrar a vida de nossa Casa Comum.
Outro trecho importante é: “Tudo está interligado, e todos somos corresponsáveis pelo cuidado da criação.” (LS, 70). Nele se ressalta a interdependência entre as dimensões ecológica, social e espiritual. Pastoralmente, reforça a vocação de todos nós cristãos para a Solidariedade Universal, incentivando iniciativas que integrem o cuidado da natureza com a promoção da justiça social. Por exemplo, projetos que envolvam ecologia e ações para erradicar a pobreza podem ser promovidos em nível diocesano e paroquial.
A visão integral da ecologia apresentada pelo Papa conecta o cuidado com o meio ambiente à dignidade humana. Ele desafia a pastoral a superar visões fragmentadas, propondo uma missão evangelizadora que inspire mudanças em estruturas econômicas e culturais, a fim de proteger tanto a natureza quanto os mais vulneráveis.
Em síntese, ambos os trechos reforçam a ideia de que a ação pastoral deve promover uma espiritualidade ecológica que transforme atitudes pessoais e coletivas. Trata-se de um convite a testemunhar o Evangelho cuidando da Casa Comum, integrando fé, ação e responsabilidade global.
Tais realidades estão conectadas com nossa Fé, se olharmos para o fato de sermos fruto do nosso Pai Criador e o somos não fora da Natureza, mas fazemos parte dela e com ela coexistimos!
Um importante caminho que podemos fazer, como cristãos é vivermos a Espiritualidade ecológica, integrando a oração e a reflexão sobre a criação na liturgia e em celebrações, como a celebração do Tempo da Criação, que une fé e compromisso com o meio ambiente. Outro caminho é, em nosso cotidiano, realizarmos a Redução do consumo, incentivar práticas simples, como evitar o desperdício de água e energia, além de adotar o consumo consciente de alimentos e produtos oriundos de práticas ambientalmente corretas, como a troca de sacolas plásticas por material reutilizável. E por fim, promover formações nas comunidades paroquiais sobre ecologia integral, conscientizando sobre os impactos ambientais e a responsabilidade cristã no cuidado com a criação, em nossa catequese, nos grupos pastorais e de oração.
Thiago Godoy, é teólogo professor e estudante de Filosofia, articulador do Laicato em nossa Diocese e coordenador da Pascom Diocesana e coordenador da Comissão Regional Justiça e Paz MS (CRJPMS)