Uma das mais antigas tradições da comunidade católica é de ter como referência para os seus fiéis, aquelas pessoas que viveram a fé e o encontro com Jesus como modelo, são os chamados Santos e Santas. A declaração das virtudes ou a canonização é uma linda experiência de reconhecimento por parte da comunidade católica, da fidelidade à vocação cristã de uma pessoa diante de toda comunidade. Os critérios para que aconteça a declaração de santidade são: martírio, vivência das virtudes teologais (fé, esperança e caridade) e, a oferta de vida. Os santos são pessoas que se tornaram modelo de vivência do amor a Deus e por isso se tornam exemplos para todas os demais irmãos e irmãs na fé.
Há, na história de Corumbá, diversas pessoas viveram o amor e a fidelidade a Jesus de modo extraordinário, uma dessas pessoas foi o salesiano Dom Antônio de Almeida Lustosa, bispo de nossa cidade nos anos de 1928 a 1931. E por esse motivo o padre Abimael Francisco do Nascimento, assessor teológico da Comissão Arquidiocesana de Apoio à Causa de Beatificação e Canonização de Dom Antônio de Almeida Lustosa, está visitando nossa diocese para levantando informações complementares e de ampliação à pesquisa histórica, uma das fases do processo de beatificação.
De acordo com o assessor, um dos motivadores para abrir a causa de Dom Lustosa foi São João Paulo II, quando esteve em Fortaleza, no ano de 1989. Na ocasião, o então papa invocou Dom Lustosa como “Santo e Sábio”. A causa de beatificação está na segunda fase, a Romana, aos cuidados do padre Pierluigi Cameroni, sdb, depois de ter sido iniciada nas dioceses de Belém e Fortaleza e segue para a terceira e última etapa, quando Dom Antônio Lustosa se tornará o primeiro bispo brasileiro ser declarado Beato e posteriormente Santo.
O processo está na fase da Positio, que é o estágio anterior ao reconhecimento das virtudes, isto é, ao título de Venerável. Sendo agora missão da Comissão Arquidiocesana e de toda a Igreja, em especial, nossa Diocese, rezar e se empenhar por esta causa, que seguramente traz grandes bênçãos para a Igreja e marca a história dos fiéis e do clero, com um exemplo de santidade tão próximo, como dom da misericórdia de Deus.
Padre Abimael tem lido os relatos e documentos em todas as dioceses e locais por onde viveu Dom Lustosa, e disse que a catequese, a administração e paixão pelas causas sociais são as marcas do apostolado do grandioso bispo.
Corumbá, na época, era uma grande diocese com quase 400.000 km² de território, já que compunha boa parte do estado uno do Mato Grosso, e no pouco tempo de permanência, visitou todo o território por duas vezes, conforme se encontra nos registros da cúria diocesana. Um literata simples e acessível que se prontificava atender quem necessitasse do diálogo e da recepção amiga do bispo.
Logo no início, em Corumbá, Dom Lustosa reabriu o seminário diocesano, trouxe diversas comunidades religiosas, entre elas os missionários Redentoristas e reestruturou a diocese.
Na atual fase do processo de canonização ainda não existe a declaração de milagre realizado pela intercessão de Dom Lustosa, mas há, pelo menos cinco sendo analisados, com o caso de uma monja da cidade de Fortaleza que ao sair de uma consulta médica, recebeu a notícia de emergência para uma cirurgia, e ela rezou e pediu a intercessão do “Santo e Sábio”, e já são mais de 15 anos de saúde estabelecida sem a necessidade da cirurgia.
O exemplo de vivência de Dom Lustosa inspira que seja declarado, assim que canonizado, como Patrono dos Bispos da América Latina.
Nos anos de Dom Lustosa a igreja ainda não tinha vivido sua transformação a partir do Vaticano II, que renovou os alicerces pastorais de toda Igreja Católica, assim como o uso da língua local nas celebrações, em substituição ao Latim, por exemplo, mas, padre Abimael, percebeu que era um bispo adiante ao seu tempo, quando já se tratava do uso das ciências modernas para a catequese, o diálogo com frentes tidas como contrárias à igreja Católica, graças à sua formação literária e simplicidade com as pessoas de seu tempo, quando a figura do bispo era visto com alta autoridade. No entanto, Dom Lustosa participou da fase preparatória desse importante Concílio.
Apesar do longo tempo que separam da vivência de Dom Lustosa em Corumbá, nossa cidade pode redescobrir a alegria e o exemplo da vivência da fé e da busca do bem às pessoas, usando a inteligência, o diálogo para transformação da história, e a confiança nos desígnios divinos.
Rezar e viver sua beatificação e canonização é um singular convite a renovar a fé, o amor, a esperança num mundo planejado pelo Amor do Criador, o servo de Deus, Dom Lustosa oferece a todos o exemplo para caminhar seguindo os planos divinos, sem que isso signifique um grande peso, já que a santidade é o caminho para todos os cristãos.
(Publicado por Thiago Godoy – PASCOM Corumbá em 27.11.2019)
História de Dom Lustosa
Antônio de Almeida Lustosa nasceu no dia 11 de fevereiro de 1886 em São João del Rei, Minas Gerais. Estudou no colégio salesiano Dom Bosco, de onde nasceu sua vocação religiosa. Foi ordenado sacerdote aos 26 anos e logo escolhido como mestre dos noviços. Em 1925 foi convidado a aceitar a nomeação de Bispo de Uberaba MG. Sua ordenação episcopal aconteceu no mesmo dia de nossa Senhora de Lourdes, dia 11 de fevereiro, dia, também, do seu nascimento. Ocupou-se dos marginalizados, fazendo sua a urgência da justiça social. Depois de nem mesmo quatro anos, foi transferido para Corumbá MS e depois foi nomeado Arcebispo de Belém do Pará. Em 1941 foi transferido para a importante sede de Fortaleza, capital do Ceará.
É conhecido como o bispo da justiça social. Fundou ambulatórios, hospitais, escolas populares gratuitas e círculos operários e além de outras atividades sociais. A fim de assistir as famílias do campo, funda a Congregação das Josefinas, atualmente presentes em vários estados do Brasil. Dom Lustosa foi, como Dom Bosco, um escritor de grande qualidade, nos mais variados temas: teologia, filosofia, espiritualidade, hagiografia, literatura, geologia e botânica, além de um grande artista: são seus os vitrais da catedral de Fortaleza.
Em 1963, depois de 38 anos de atividade episcopal, retirou-se para casa salesiana de Carpina onde passou seus últimos anos de vida vindo a falecer em 14 de agosto de 1974. Seus restos mortais repousam na catedral de Fortaleza. Em 1999 sua causa de beatificação foi iniciada na diocese de Fortaleza. E hoje é conhecido como Servo de Deus, Dom Antônio Lustosa.